FESTAS JUNINAS DE CABO VERDE
FESTAS JUNINAS DE CABO VERDE
Em Porto Novo vive-se aquela que será, muito provavelmente, a maior festa de romaria de Cabo Verde. Comme il faut, religioso e pagão misturam-se ao longo de quase todo o mês de Junho.
A programação começou no início do mês, em jeito de prelúdio do que por aí vem, quando chegarmos às vésperas de 24.
Atletismo, ciclismo, corridas de cavalos, teqball, futsal e andebol compõem a componente desportiva do Son Jon revoltiód.
Em termos culturais, é hábito organizar algumas sessões de formação. Este ano, realizou-se uma oficina de construção de navios de São João, no âmbito do plano de salvaguardarva festa de São João Baptista, onde identifica-se alguns aspectos que precisam ser reforçados, para que possamos ter a festa cada vez mais enraizada e salvaguardar os aspectos tradicionais, complementa o responsável.
O baile popular de 23 e 24 de Junho foi concessionado a um promotor de eventos e está garantido. Garantida está também a peregrinação de dia 23, entre Ribeira das Patas e Porto Novo, bem como missa e procissão, a 24.
Resgatámos uma das tradições de romaria, que é o ritual de cola fjid, que marca a passagem da vida da adolescência para a vida adulta. Antigamente, roubavam um adolescente nas comunidades e traziam-no para a festa no Porto Novo. Depois, no regresso, faziam todo o ritual de entrega do fjid.
Do programa, que é vasto, destaque também para a XVI edição da Feira de Produtos Agropecuários de Santo Antão, de 17 a 19 de Junho, no Polivalente de Berlim.
Ribeira de Julião
Do outro lado do canal, em São Vicente, o São João também se leva a sério. Em 2020 e 2021, a covid-19 deu o seu show solo, mas este ano, e apesar de muitos constrangimentos financeiros, o rufar dos tambores está garantido.
António Tavares, presidente da Associação Terra Tambor, anuncia para dia 24 a marcha que vai ligar o Centro Cultural do Mindelo, no centro da cidade, a Ribeira de Julião.
Foram dois anos sem festa, o que foi muito marcante. É uma festa que está intrinsecamente ligada a este período de solstício.
Há pessoas que fazem as suas férias para virem tocar. É um momento único, em que tocamos olhos nos olhos e colamos, que é uma forma de renovar a vida, renovar a esperança, a vontade de um ano fértil. O nosso povo está mesmo a precisar disso, tendo em conta todas as dificuldades. Temos que ter precaução, mas é uma festa fundamental. O nosso corpo precisa de dançar, de expulsar essas mazelas psicológicas que esse período de dois anos nos fez.
Apesar da vontade de regressar à festa, muitas das actividades que habitualmente compõem o programa do São João em São Vicente mantêm-se suspensas. Por exemplo, em Fonte Inês, não deverá acontecer a típica saltá lumnara.
Estamos motivados por poder organizar um primeiro sinal e, no decorrer deste ano, preparar as coisas para que o próximo seja com toda a estruturação, desde o dia 3 até 24 de Junho.
São Pedro
Ainda por São Vicente, outra festa de romaria marca a agenda do mês de Junho. Na localidade com o seu nome, o São Pedro está de volta, com um programa cultural e desportivo, para além da dimensão religiosa. Ouril, bisca, futebol de onze, futsal infantil, corrida de resistência e regata são propostas para estes dias. Dia 29, ponto alto, a cidade ruma à vila piscatória.
Arceolinda Gomes integra a organização das festas de São Pedro, este ano dinamizada por uma comissão, em conjunto com associações locais. A comunidade espera por um encontro com a câmara municipal, para afinar pormenores.
“Há muito entusiamo, porque normalmente é uma festa marcante”, confessa.
A expectativa é grande e não é para menos. Além de ser um momento de celebração, o São Pedro dá a muitas famílias a oportunidade de ganhar algum dinheiro.
“Toda a gente conta com esta festa. Estamos a passar por muitas dificuldades, devido à pandemia e à guerra. As pessoas estão a ver na festa uma forma de ganhar o pão de cada dia, onde podem vender a sua moreia ou outras coisas”, explica.
Brava
Os santos populares também se celebram na ilha mais a sul do arquipélago. Na Brava, as festas juninas começam logo com o Santo António. O ponto alto é o São João. Cultura, desporto e religião juntam-se ao longo de praticamente um mês e em 2022 com direito a dose extra de ansiedade, causada pela retoma das actividades, interrompidas desde 2019.
João Paulo, integra a comissão organizadora da festa de São Pedro, que embora mais pequena que o São João, “tem o mesmo brilho”.
Normalmente, a preparação é anual. Os festeiros começam a preparar desde a tomada da bandeira até ao culminar, que é o festejo, no ano seguinte. Os preparativos passam por tentar o máximo possível de apoios e tenta criar uma comissão organizadora, porque é uma festa popular.
Um dos grandes momentos do São Pedro Apóstolo acontece a 27, dia do tradicional cutchi midje, em preparação para o almoço de 29.
No dia, também haverá a vestimenta do mastro. Às seis da manhã, as pessoas encaminham-se com as prendas para o mastro. O culminar das festas é o almoço. Às 17 horas, temos aquilo que é chamado de passagem da bandeira para o próximo festeiro”, resume.
“O festeiro leva a bandeira para o mastro e alguém arremata a bandeira, assumindo a responsabilidade da festa do próximo ano.
Paul
Por falar em António, vale a pena regressar à ilha onde começámos, para referir a festa do santo que, no Paul, coincide com as festas do município. O programa começou domingo, com a Miss Santo Antão e prossegue, com actividades diárias, até 14 de Junho (sugerimos que espreite a página de Facebook da câmara municipal, para não perder pitada). Dia 12, decorrerá a parte protocolar. Dia 13, centro das comemorações, haverá missa e procissão, concurso de tamboreiros e coladeiras, além de corrida de burros e a final da corrida de cavalos. Se planeia uma ida às Pombas, atrás de noites de baile, fique descansado. Há animação musical planeada para os dias 10, 11, 12, 13 e 14.
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